Nós proclamamos que esta visão do mundo está ainda viva no século XXI e que um questionamento que em tudo se lhe assemelha está em progresso nas ciências e nas consciências.
Deus não tem realidade no mundo. Ele é ausente e não é oponível. No entanto, a ideia purificada de Deus revela-se nos espíritos. Essa purificação é um caminho de verdade que passa pela realidade dos factos e a lógica do discurso. Toda a leitura dos textos fundadores deve apoiar-se no método histórico-analítico que invalida os raciocínios teológicos.
A velha Bíblia revela um Deus legislador preso aos valores do mundo, enquanto que o Evangelho desvenda um Deus separado do mundo.
Paulo elabora a ideia das duas criações :
- o Deus bíblico cria um homem preso aos instintos e paixões, oriundo do reino animal;
- o Cristo cria um filho de homem, oriundo do reino do espírito, capaz do discernimento da consciência. Ele não anuncia a regeneração da carne, mas a sua natureza vil.
O mundo fundamentalmente mau no qual vivemos pertence ao Demónio. O mal – que não é mais do que, simplesmente, o que faz mal – vem primeiro e o bem nunca vem senão aliviar o excesso de mal. O dualismo opõe a não-violência à violência. Visto que o mal está intrinsecamente ligado à vida, porque imaginaremos nós um Deus criador de toda a bondade? Existe nisso uma espécie de ligação afectiva que nos prende ao Demónio como o escravo ao seu mestre.
A filosofia cátara é uma filosofia de libertação que inverte a perspectiva comum. Ela encontra, na sociedade humana, uma dificuldade tão grande como a da Galileia, que tentava demonstrar que a evidência era, afinal, um erro.